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  • sandralesbaupin

PAIS MAUS...


Quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães, hei-de dizer-lhes:

=> amei-vos o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

=> amei-vos o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

=> amei-vos o suficiente para os fazer pagar as rebuçados que tiraram do supermercado e dizer ao dono: “Nós tirámos isto ontem e queremos pagar”.

=> amei-vos o suficiente para ter ficado a pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

=> amei-vos o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mas, mais do que tudo:

=> amei-vos o suficiente para vos dizer “não”, quando sabia que me poderiam odiar por isso, e nalguns momentos até me odiaram. Essas eram as mais difíceis batalhas de todas.

Estamos contentes, vencemos! Porque no final vocês venceram também!

E, qualquer dia, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e as mães; quando eles vos perguntarem se os vossos pais eram maus, os meus filhos vão lhes dizer: “Sim, os nossos pais eram maus. Eram os pais mais malvados do mundo:

=> as outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer pão, frutas e vitaminas.

=> as outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e gelados ao almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne e legumes.

=> obrigavam-nos a jantar à mesa, ao contrário dos outros pais que deixavam os filhos comer e ver televisão.

=> insistiam em saber onde estávamos a toda hora. Era quase uma prisão.

=> a mãe tinha que saber quem eram os nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. E o pai insistia para que lhe disséssemos com quem iríamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.

Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles “violavam as leis do trabalho infantil”: tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar as nossas desarrumações, despejar o lixo e fazer todos os tipo de trabalhos que achávamos crueis. Acho que eles nem dormiam à noite, só para pensar nas coisas que nos iriam mandar fazer no dia seguinte. Insistiam connosco para que sempre disséssemos a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, conseguiam até ler os nossos pensamentos.

A nossa vida era mesmo chata.

Enquanto, com 12 anos, todos os nossos amigos podiam voltar tarde à noite, nós tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde. O pai - aquele chato! - levantava-se para saber se a festa tinha sido boa... mas, percebia-se, era só para ver como estávamos ao voltar.

Por causa dos nossos pais, perdemos imensas experiências na adolescência: Nenhum de nós esteve envolvido em drogas, em roubos, em actos de vandalismo, em violação de propriedade e nem fomos presos por nenhum crime. Tudo por causa deles!

Agora, que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer de tudo o que podemos para conseguirmos ser “PAIS MAUS”, como os nossos foram.

Dr. Carlos Hecktheuer Médico Psiquiatra Passo Fundo - RS


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