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  • Tatiana Pimenta

Você vale muito: jamais pense o contrário!


Você já teve a sensação de que o sucesso que você atingiu é exagerado, como se não merecesse tudo aquilo? Se já passou por isso, saiba que não está sozinho! Esse sentimento é tão comum que tem até nome: "Síndrome do Impostor". Só que, nessa história, o único impostor está no título. As pessoas que passam por isso atingiram sucesso pelo seu conhecimento e trabalho duro. Mas, se é assim, por que tanta gente sofre dessa síndrome?

A expressão “Síndrome do Impostor” foi usada a primeira vez pela psicóloga Dra. Pauline Clance, no final da década de 1970. Refere-se a um conjunto de sentimentos que reúne medo, dúvida, apreensão e um ciclo de ansiedade pós-sucesso. Apesar de extremamente bem sucedidas e do alto nível de desempenho atingido em atividades acadêmicas, negócios ou empreendimentos, muitas pessoas experimentam sentimentos de negação disso. Acreditam que seu sucesso decorre de sorte, acaso ou mesmo de uma ação divina. Sofrem com o medo de que suas conquistas não tenham sido fruto efetivo do seu trabalho, competência ou talento.

Você já ouviu alguém afirmando: “às vezes, eu penso que consegui a minha posição atual por estar no lugar certo, na hora certa ou por conhecer as pessoas certas.” Essa afirmação pode indicar um padrão da pessoa em nutrir sentimentos indesejáveis a respeito do próprio sucesso. Ao internalizar e até mesmo negar suas realizações pessoais e profissionais, os indivíduos têm sua autoestima enfraquecida, podendo gerar prejuízos para a continuidade da atividade criativa, comprometendo até mesmo resultados pessoais e profissionais.


Pesquisas estimam que 70% das pessoas experienciam esses sentimentos pelo menos uma vez ao longo da carreira. Esse índice faz total sentido. Particularmente, posso afirmar que, em alguns momentos, já fiz reflexões a respeito de algumas conquistas particulares. Sempre fui boa aluna, estive entre os primeiros da turma, passei em primeiro lugar no vestibular, fui trainee de um grande grupo empresarial e, nos últimos meses, a Vittude, startup da qual sou fundadora, recebeu alguns prêmios e atenção da mídia. Apesar de todos esses indicadores muito positivos, já me vi questionando se esses resultados eram realmente frutos de mérito meu.

Precisamos ficar de olhos bem abertos: sentimentos de impostor geralmente podem ser acompanhados de ansiedade e até de depressão. Por isso, em geral, indivíduos com este sentimento sofrem em silêncio. A maioria não fala sobre isso. Eles têm medo de serem “descobertos”. Afinal de contas, ao falarem que se sentem uma fraude, existiria sempre o risco de alguém concordar com aquilo.

Por que tanta gente sofre disso?

Segundo a psicóloga PhD Suzanne Imes, do mesmo grupo da Dra. Clance, muitas pessoas que se sentem como impostoras cresceram em famílias onde a cobrança por resultados e alta performance é intensa. Em particular, os pais que enviam mensagens mistas, alternando críticas e elogios, podem aumentar o risco de futuros sentimentos de fraude em seus filhos. Outras pressões sociais, como de amigos ou da escola, também podem ampliar o problema.

Alguns grupos minoritários podem ser especialmente suscetíveis. Um estudo de 2013 da Universidade do Texas em Austin feito com estudantes universitários de minorias étnicas descobriu que os americanos asiáticos eram mais propensos que os afro-americanos ou latino-americanos a experimentar sentimentos de impostor. Quem tem amigos de origem asiática já deve ter percebido que esse tipo de cobrança pessoal por desempenho é bastante comum e intensa na cultura oriental.

Este sentimento também parece ser mais comum em pessoas que estão embarcando em um novo empreendimento. Jovens iniciando etapas de mestrado, doutorado, estruturando uma nova empresa ou assumindo um cargo desafiador. Eles são muitas vezes colocados diante de tarefas para as quais ainda não estão 100% preparados ou em um ritmo muito mais pesado. Mesmo tendo sido aprovados em grandes processos seletivos, têm dificuldade em acreditar que são dignos do êxito ou capazes de seguir adiante.

Compreendo que assumir desafios e inovar gera medo. Ao decidir fundar a Vittude, senti a necessidade de aprender temas que nunca tinha tido contato em outras empresas, como marketing digital, contabilidade, noções de desenvolvimento web e funcionamento da lógica de programação. O mundo das startups era uma página totalmente em branco quando comecei. O autoconhecimento foi fundamental: ter plena consciência das habilidades que preciso desenvolver me ajuda a manter o foco, entender que a minha capacidade de gestão está em constante desenvolvimento e que eu mereço os bons resultados que colhi até agora.

Para piorar, a “Síndrome do Impostor” e o perfeccionismo muitas vezes andam de mãos dadas. Essas pessoas acreditam que todas as tarefas que assumem precisam ser perfeitamente executadas. Os perfeccionistas tendem a procrastinar suas atividades, adiando entregas pelo seus elevados níveis de exigência. Tendem a ser obsessivos com detalhes, se preparar e estudar mais que o necessário, gastando tempo e perdendo a objetividade. Cuidado com esta atitude! Como diz o ditado, “feito é melhor que perfeito!”

Em coaching, falamos muito sobre crenças limitantes e ressignificação. Durante o processo, o coachee identifica, com o apoio do coach, as crenças que estão literalmente limitando seu crescimento e evolução. Essas crenças, em alguns casos, originadas por um trauma, como uma perda de emprego, são trabalhadas de forma a mudar o foco, permitindo que o cliente se livre dessa visão negativa e faça novas construções para o futuro, fortalecendo suas concepções a respeito de si.

Se você se reconheceu em alguns dos parágrafos acima, saiba que existem muitas formas de superar esta crença de impostor e eliminar esses sentimentos de que você não está à altura de suas conquistas.

Tenha um mentor

Se você se sente inseguro com relação a temas que ainda não domina completamente, recomendo que escolha um ou dois mentores com quem possa se aconselhar. O ideal é escolher pessoas que sejam referência de sucesso na sua área de atuação. Se, por exemplo, você está construindo sua tese de doutorado, pode ser interessante ter como mentor um professor que seja referência no assunto que está sendo estudado. Na Vittude, tive contato com vários mentores durante o programa de aceleração da Startup Farm, maior aceleradora de startups da América Latina. Após o processo, escolhi dois mentores que nos ajudam até hoje com conselhos e direcionamentos sobre o negócio.

Isso vale para qualquer pessoa! Se você gosta de séries, recomendo assistir a The Crown, no Netflix, e isso ficará bem claro. Ela conta a história da família real britânica, com foco na rainha Elizabeth II. Ela assumiu a coroa após a morte do seu pai, com apenas 24 anos de idade. Ao se deparar com a grandiosidade do seu cargo, percebeu que não havia sido preparada intelectualmente para as demandas que a posição de rainha exigiria, reconhecendo sua falta de habilidade para assuntos como política, economia e filosofia. Solicita então ao seu secretário que lhe contrate um tutor. Desta forma, buscou conhecimentos para que pudesse estar em pé de igualdade nas discussões com o primeiro-ministro Winston Churchill e demais membros do parlamento.

Descubra seus pontos fortes

Para fugir dos sentimentos de impostor, descubra seus pontos fortes. Ponto forte é a capacidade de apresentar, de forma estável, desempenho próximo à perfeição em uma atividade específica. A chave para a criação de um ponto forte é identificar seus talentos dominantes - os modos como você pensa, sente e se comporta mais naturalmente, como indivíduo - e, em seguida, complementar esses talentos com a aquisição de conhecimentos e habilidades pertinentes àquilo. Como dica, sugiro um teste desenvolvido pelo Gallup Institute: no livro “Descubra seus pontos fortes”, o leitor encontra uma chave para realizar um teste que identifica seus cinco talentos dominantes. É impressionante a precisão dos resultados. Costumo utilizar esse livro como base de trabalho com alguns coachees que atendo.

Reconheça e fortaleça seus talentos

Além do teste da Gallup, você pode também fazer algum tipo de assesment ou teste de personalidade para ampliar seu autoconhecimento. Várias ferramentas são interessantes, como DISC, MBTI, Social Style, entre outros. Durante um processo de coaching de carreira ou coaching executivo, tenho como estratégia realizar uma avaliação inicial com o cliente baseada na metodologia DISC. Após identificar fortalezas, partimos para o estabelecimento dos objetivos do processo e pontos onde serão trabalhadas as melhorias.

Mude o pensamento

Reformule o modo como encara suas conquistas. Se você tende a procrastinar e buscar perfeição, experimente pedir ajuda para um amigo com a revisão de um texto que ainda não esteja polido o suficiente. Experimente reduzir algumas horas de preparação para uma determinada tarefa. Se imaginava dedicar 4h, experimente executar em 3h. As superstições precisam ser ajustadas gradualmente, uma vez que são extremamente fortes.

Converse com alguém que possa ajudar

Para pessoas com “Síndrome de Impostor”, a psicoterapia individual pode ser extremamente útil. Um psicólogo pode lhe dar ferramentas para ajudá-lo a quebrar o ciclo do “pensamento impostor”. Em geral, as pessoas afetadas pela síndrome não percebem que poderiam estar vivendo de outra maneira. Eles não têm ideia de que é possível não se sentir tão ansioso e temeroso o tempo todo.

O guru da administração Tom Peters tem uma frase famosa: “você não deve evitar o caminho para seu sucesso”. Da mesma forma, jamais desmereça aquilo que você trilhou para chegar lá! Se você se identificou com os pontos acima, procure realizar os passos indicados para encontrar e valorizar aquilo que você tem de bom. E, se precisa, não pense duas vezes em pedir ajuda de um psicólogo, que é o profissional certo para auxiliá-lo nesse processo. A única coisa que não pode fazer é continuar achando que todas as coisas incríveis que você realizou e continua realizando caíram no seu colo diretamente do céu.

Tatiana Pimenta é Ceo e fundadora da Vittude, startup focada em psicologia e coaching. Atua também como Coach nas áreas de empreendedorismo, gestão de negócios e vendas. É mentora de jovens e mulheres empreendedoras. Desenvolve trabalhos de consultoria empresarial nas áreas de gestão de vendas e cultura organizacional.


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