A Juventude
Vivemos num mundo em que a juventude é extremamente valorizada. Mas não qualquer juventude. Tendemos a fazer uma distinção entre aqueles que a compõem: os adultos-jovem e os adolescentes. Os primeiros, admirados; os segundos, “aborrecentes”, uma lamentação.
Claro que eu estou generalizando. Adolescentes podem ser pessoas sensacionais e ser um jovem adulto não é garantia de qualidade pessoal. Ainda bem! Mas sei que você me entende quando chamo a atenção para o suspiro de admiração e o olhar em direção ao horizonte que acompanham a expressão pronunciada lentamente, “aquele jovem rapaz”... Em oposição, ao se pronunciar “o adolescente”, nosso olhar mira o chão e nossa respiração carrega um certo pesar. Isso é socialmente construído.
Frequentemente vemos os jovens como bonitos, saudáveis, criativos, destemidos e promotores de mudanças. Já os adolescentes, são fisicamente desproporcionais, questionadores, imaturos e prepotentemente donos da verdade.
Mas quando, exatamente, estamos diante de um ou de outro?
O que proponho com o artigo a seguir é refletir sobre quem o adolescente e quem é o jovem adulto na nossa sociedade. O que os diferencia?
É evidente que não há sentido em fazer essa diferenciação pela idade cronológica. Seria simplista e um desacato à sua inteligência, caro leitor. Estes períodos são compreendidos como uma forma de vida, uma fase com características particulares, e não como uma faixa-etária propriamente dita.
Sobre o Adolescente
Grosseiramente, a adolescência pode ser definida como uma fase intermediária entre a infância e a vida adulta cujo início é marcado pela puberdade.
Importante destacar que puberdade e adolescência não são sinônimos. Puberdade é o processo biológico de amadurecimento e, portanto, experimentado por todos os seres humanos de forma semelhante. A adolescência é um fenômeno psicológico e, como tal, depende de critérios sociais e culturais para ser definida. Sua existência e duração variam de cultura para cultura.
Na nossa sociedade, a adolescência é o período em que a criança começa a questionar seus pais e sua família (hábitos, valores, costumes) e seus interesses focam-se no mundo externo, precisamente em pessoas da mesma idade. Essa fase se estende por alguns anos e entra em declínio quando o jovem é capaz de reintegrar os valores e costumes de sua família de origem, rejeitados no início da adolescência.
Psicologicamente, até o surgimento da puberdade a criança mantém um equilíbrio interno entre sua mente, seu corpo e sua percepção do ambiente, o que cria condições para uma existência tranqüila. Porém, com a chegada da puberdade, começam as modificações físicas nesta criança (corpo), o pensamento lógico concreto passa para o nível abstrato dando-lhe possibilidade de manipular idéias (mente) e, como decorrência dos dois primeiros fatores, o jovem passa a perceber o mundo de forma diferente, e começa a se relacionar com ele de maneira também diferente (ambiente). Desta nova realidade, muitas vezes, decorre a insegurança adolescente.
Sobre o Jovem Adulto
A fase do adulto-jovem, por sua vez, pode ser definida como o período de tempo no qual o indivíduo tem autonomia em relação à sua família de origem em termos emocionais (não necessariamente físicos), mas ainda não estabeleceu uma família de procriação. É neste período que o jovem estabelece objetivos de vida e escolhe emocionalmente aquilo que levará da família de origem, aquilo que deixará para trás e aquilo que irá criar sozinho.
Alguns autores chamam esse período de “década das afirmações”. Ao vivenciarem experiências amorosas mais consistentes, ampliarem suas relações pessoais e assegurarem-se de suas escolhas profissionais, os adultos-jovem refazem as relações emocionais com pais e irmãos, nas quais passa a prevalecer a amizade em detrimento da submissão conflituosa. Nesta fase, também, ocorre a substituição da vergonha em relação aos pais (da visão deles como “velhos ultrapassados”), por uma aproximação afetiva em busca de aconselhamentos.
O jovem vive seu apogeu físico neste período, coroado pela conclusão do desenvolvimento emocional e intelectual iniciado na adolescência.
Convido você, então, a me acompanhar em 3 artigos sobre essa temática
No primeiro artigo, este que lê agora, fiz a aproximação ao tema por meio de uma diferenciação genérica entre esses grupos, para aquecer nossas reflexões. No segundo artigo da série, aprofundo essa discussão à luz de teorias psicológicas. Por fim, no terceiro, faço uma síntese pessoal, diferente de tudo o que costumeiramente lemos e ouvimos por aí, mas muito pertinente. Vamos refletir sobre o que diferencia o adolescente do adulto-jovem sob a ótica do processo de formação da identidade dessas faixas etárias.
Vamos lá?