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  • Sandrinha Lesbaupin

Infância


Escrevo esse artigo inspirada em um texto do Dr. Luis Rojas Marcos, psiquiatra espanhol e professor na Universidade de Nova York. Nesse artigo, o médico alerta para o aumento agudo e constante da doença mental da infância. Por exemplo:

• 1 em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental • Aumento de 43% nos casos de TDAH nos últimos 15 anos • Aumento de 37% na depressão adolescente no mesmo período • Aumento de 200% na taxa de suicídio em crianças de 10 a 14 anos do início do século para cá.

Naturalmente, a pergunta que fica é: o que está acontecendo? Ou ainda: o que estamos fazendo de errado?

A resposta a essas perguntas, inevitavelmente, recai sobre uma análise da atual sociedade. Gostei do texto do Dr. Luis Rojas Marcos - e vou transcrever grande parte dele aqui - pois trabalho cotidianamente com os jovens que essas crianças se tornam.

As crianças de hoje são superestimuladas com objetos materiais, mas privadas de conceitos essenciais para sua formação e amadurecimento. Movimento, liberdade para exploração ao ar livre, jogo criativo, interação social, oportunidades de jogo não estruturadas e espaços para o tédio são alguns exemplos de experiências cada vez mais raras na infância.

Passei uma semana de férias numa fazenda no interior de MG com seis crianças da capital. Sem sinal de celular nem wi-fi, sem monitores nem parquinho, sem piscina nem pesque-e-pague. Uma delas expressou exatamente aquilo que procuro demonstrar aqui: “nunca tive tantos machucados (arranhões, em sua maioria), mas nunca me diverti tanto!” (R., 12 anos)

Como pais, parece que esquecemos que a privação e a frustração são fundamentais para uma infância saudável. Colocar limites claramente definidos e dar responsabilidades às crianças não é crueldade. Permitir que uma criança erre, se machuque, e então arque com as consequências de seus atos e de suas escolhas não é descuido parental.

Ainda segundo o psiquiatra espanhol, nos últimos anos as crianças foram preenchidas com pais digitalmente distraídos, pais indulgentes e permissivos que deixam que as crianças "governarem o mundo" sem precisarem seguir regras. Crianças com um sentido de direito, de obter tudo sem merecê-lo ou ser responsável por obtê-lo, sono inadequado e nutrição desequilibrada, um estilo de vida sedentário e estimulação sem fim, armas tecnológicas, gratificação instantânea e ausência de momentos chatos.

Uma criança que tudo pode se torna um jovem que não sabe escolher (pois fazer uma escolha implica em abrir mão de tudo aquilo que foi preterido) e em adultos emocionalmente frágeis e angustiados. O que fazer?

Se queremos que nossos filhos sejam indivíduos felizes e saudáveis, temos que acordar e voltar ao básico, diz o professor. Ele recomenda que os pais:

• Definam limites claros e lembrem-se que você é o capitão do navio. Seus filhos se sentirão mais seguros sabendo que você está no controle do leme. • Ofereçam às crianças um estilo de vida equilibrado, repleto daquilo que elas PRECISAM, não apenas do que QUEREM. Não tenha medo de dizer "não" aos seus filhos se o que eles querem não é o que eles precisam. • Forneçam alimentos nutritivos e limitem a comida lixo. • Passem pelo menos uma hora por dia ao ar livre fazendo atividades como ciclismo, caminhadas, pesca, observação de aves / insetos. • Desfrutem de um jantar familiar diário sem smartphones ou tecnologia para distraí-los. • Joguem jogos de tabuleiro juntos • Envolvam seus filhos em trabalhos de casa ou tarefas de acordo com sua idade (dobrar a roupa, arrumar brinquedos, pendurar roupas, colocar a mesa, alimentação do cachorro, etc.) • Implementem uma rotina de sono consistente para garantir que seu filho durma o suficiente. Os horários serão ainda mais importantes para crianças em idade escolar. • Ensinem responsabilidade e independência. Não os proteja excessivamente contra qualquer frustração ou erro. Errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida • Não carreguem a mochila dos seus filhos, não lhes levem a tarefa que esqueceram, não descasquem as bananas se puderem fazê-lo por conta própria (4-5 anos). Em vez de dar-lhes o peixe, ensinem-os a pescar. • Ensinem-os a esperar e atrasar a gratificação. • Forneçam oportunidades para o "tédio", uma vez que o tédio é o momento em que a criatividade desperta. Não se sinta responsável por sempre manter as crianças entretidas. • Não usem a tecnologia como uma cura para o tédio, tampouco ofereçam-na no primeiro segundo de inatividade. • Evitem usar tecnologia durante as refeições, em carros, restaurantes, shopping centers. Use esses momentos como oportunidades para socializar e treinar cérebros para saber como funcionar quando no modo: "tédio" • Ajudem-nos a criar uma "garrafa de tédio" com idéias de atividade para quando estão entediadas. • Estejam emocionalmente disponíveis para se conectar com crianças e ensinar-lhes auto-regulação e habilidades sociais: • Desliguem os telefones à noite quando as crianças têm que ir para a cama para evitar a distração digital. • Tornem-se um regulador ou treinador emocional de seus filhos. Ensine-os a reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva. • Ensinem-os a dizer olá, a se revezar, a compartilhar sem se esgotar de nada, a agradecer e agradecer, reconhecer o erro e pedir desculpas (não forçar). Sejam um modelo de todos esses valores. • Conectem-se emocionalmente - sorriam, abracem, beijem, façam cócegas, leiam, dancem, pulem, brinquem e rastejem com elas.


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