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  • Sandrinha Lesbaupin

A Geração Canguru


Então os filhos se tornaram adultos e estão relativamente encaminhados na vida, certo? Não. A atual juventude não pensa em sair para ganhar o mundo e acha ótimo continuar morando com os pais. A chamada “Geração Canguru”, aquela composta por jovens de 25 a 34 anos que moram com os pais desde que nasceram, aumentou em ⅕ de 2002 a 2012, segundo o IBGE.

É um fenômeno mundial: cada vez mais os filhos prolongam sua estada na casa da família, desfrutando de benesses como cuidado e apoio quase inesgotáveis, liberdade, a comidinha quente, roupa lavada e outros confortos. Os pais, por sua vez, aceitam essa adolescência prolongada e, em muitos casos, estimulam a permanência dos filhos em casa - atitude essa que pode funcionar como uma estratégia para enfrentar o próprio envelhecimento. Segundo o levantamento feito pelo geógrafo Arlindo Mello para sua tese de mestrado na Escola Nacional de Estatísticas do Rio de Janeiro (2017), 25% os filhos que ainda moram na casa dos pais na Cidade Maravilhosa têm mais de 30 anos. É gente pra burro.

Mesmo quando saem com menos idade, muitos jovens ainda conservam uma parte do seu ninho com os pais. É o caso dos inúmeros adultos que levam a roupa suja para lavar e passar na casa da mãe, ou ela os entrega semanalmente marmitas congeladas para a alimentação saudável e equilibrada do filhote durante seus dias longe (longe, entenda-se, é na sua própria casa). Quem vê o desembaraço e a independência profissional dessa turma, não desconfia do outro lado da moeda.

O aumento da escolaridade, o custo da moradia, casamentos tardios e a opção pela maternidade com mais idade são os fatores comumentemente apontados para justificar a saída dos jovens de casa cada vez mais tarde, com cada vez mais idade. A dificuldade para sobreviver e as facilidades dadas pelos pais conservam muita gente em casa.

Porém, como avaliar se você está acomodado ou apenas usando-se de uma força da família para cumprir seu projeto de vida? Essa é a grande pergunta que você deve fazer a si mesmo quando começar a coceirinha de querer sair de casa. “Saber qual é seu projeto de vida esclarece a situação. Querer ficar na casa dos pais para fazer um mestrado ou curso de especialização para ter melhores chances no mercado de trabalho é uma coisa. Ficar porque tem certeza de que seu padrão de vida vai abaixar quando começar a pagar suas próprias contas, é outra”, diz a psicóloga Lidia Aratangy. Autora de vários livros sobre a relação entre pais e filhos, ela aconselha, inclusive, os pais a sentarem com seus filhos e conversarem, com clareza, sobre o que eles pretendem fazer de suas vidas. Lidia, que já é avó, perturba-se com a infantilização exagerada dos jovens adultos de hoje.

Independência? Liberdade? Bens materiais? Por que buscar por isso fora de casa? É o que mais eles têm ali mesmo. Porta do quarto fechada, celular conectado e o mundo está lá, nas suas mãos! Com a vantagem de não ter que dar a cara a bater, não passar apertos, não precisar pagar pela conta de luz e, muitas vezes, nem pela do celular…

Outra possível razão para isso ocorrer talvez seja o excesso de mimos dos pais. A imaturidade do jovens hoje em dia é visível por sua baixa tolerância às frustrações – tal qual são as crianças. Uma boa relação com as próprias frustrações é um dos alicerces da maturidade. Nesse caso, então, o que fazer? Terapia é bom. Mas também vôos rasos, curtos, só para sentir qual é sua autonomia. Mesmo que o desempenho não seja muito bom, não desanime. Aprender é o maior capacidade do ser humano.

A juventude, com sua beleza e ímpeto de vida, tornou-se o mais desejado dos bens. Por isso, os filhos de hoje querem permanecer adolescentes até a última hora. E os pais também. Pensem bem: ter os filhos por perto, como se fossem crianças, pode aumentar, e muito, a ilusão de eterna juventude. E adiar o momento de se reestruturar um casamento, de se perguntar o que realmente gosta de fazer na vida, procurar projetos que incluam a realização pessoal. Reencontrar a própria individualidade, depois de tantos anos se dedicando a ajudar a formar a identidade dos filhos pode ser um processo doloroso.

Enfrentar o mundo e construir a própria história faz parte do processo de amadurecimento. Simplesmente, tem que acontecer.


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