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Sandrinha Lesbaupin

Fazer o que se Gosta


A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de um jovem. Muitos pais, professores e orientadores vocacionais acabam recomendando “fazer o que se gosta”, um conselho confuso e equivocado.


Empresas pagam a profissinais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer - jogar futebol, ler um livro ou pegar uma praia, cá entre nós!

Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito, ou precisa que seja feito. Porque, vamos combinar, há muitas coisas chatas mas importantes e necessárias nessa vida, né? Já sei, você deve estar pensando que o que é chato para um pode ser legal para o outro, que onde eu tenho dificuldade o outro pode ter facilidade e assim por diante, mas sabemos que não é bem assim… Qualquer atividade tem seu lado ruim.

Muitos jovens sonham em trabalhar no terceiro setor porque é o que eles gostariam de fazer: “ajudar os outros fora do capitalismo selvagem”. É uma arrogância intelectual e um insulto aos milhares de trabalhadores dos setores privados sugerir que eles não ajudem os outros.

As coisas que realmente gosto de fazer, como correr, escrever e brincar com minhas filhas, eu faço de graça. O “ócio criativo”, sonho do brasileiro (ser pago para fazer o que gosta) é alcançado por pouquíssimas pessoas - e, reitero, mesmo essas fazem coisas que não gostam em troca dessa remuneração também! Todo trabalho tem seu lado ruim.

O que seria da sociedade se ninguém produzisse sapatos porque queremos “fazer só o que gostamos"? Pediatras e obstetras atendem às 2h da manhã. Médicos e enfermeiros atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem que ser feito.

Se você está pensando “mas esses profissionais da saúde gostam do que fazem”, eu concordo! Gostam de fazer o bem, gostam de ajudar os outros, gostam de distribuir saúde. Mas gostariam ainda mais se pudessem escolher quando fazer isso, não acha? Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que precisa ser feito quando precisa ser feito.

Então, você deve estar se perguntando, teremos que trabalhar em algo que não gostamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Claro que não! Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aceitar que todas as carreiras, profissões e trabalhos tem um lado mais gratificante e prazeroso e outro mais chato, não tão interessante assim. E, então, respeitar ambos os lados e aprender a gostar do que você faz (em seu sentido mais amplo). E isso é mais fácil do que você pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito.

Aliás esse não é um conselho simplesmente profissional, mas um conselho de vida. Se algo precisa ser feito, que seja bem feito! Viva com esse objetivo. Você pode não ficar rico, mas viverá feliz. Provavelmente, nada lhe faltará porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que só fazem o que gostam ou fazem o mínimo necessário.

Descubra suas habilidades, seus sonhos e seus valores e procure um trabalho conivente com eles. Isso permitirá que você o realize com excelência e o colocará à frente dos demais. Mas não busque “fazer o que se gosta”.

(baseado em Stephen Kanitz, artigo publicado na Revista Veja, edição 1881)


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