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  • Sandrinha Lesbaupin

Como me tornei Psicóloga?


Impossível trabalhar com orientação profissional sem refletir sobre a minha própria trajetória. Qual foi meu percurso até aqui? Como se deu o meu processo de escolha profissional? Quem são as pessoas que o influenciaram? O que poderia ter sido diferente?

Por mais que eu já tenha feito e refeito essas perguntas a mim mesma inúmeras vezes, é a primeira vez que me disponho a escrever sobre elas. E estou feliz por fazê-lo. O registro escrito permite reflexões muito diferentes das mentais, além de imortalizá-las. Então, vamos lá!

Quero ser psicóloga “desde sempre” ou, pelo menos, desde que eu me lembro de querer alguma coisa com certa maturidade. As primeiras escolhas, aquelas infantis (bailarina, bombeira, garçonete…) não contam, né? Mas jamais pesquisei as razões desse querer tão remoto. Não me lembro claramente como ou quando o desejo começou, nem quem foram as minhas inspirações ou quais eram as minhas expectativas em relação à carreira.

Sempre gostei muito de conversar com pessoas, qualquer que fosse, e interesso-me por suas histórias. Detesto atrasos - não me faça esperar sentada na poltrona do consultório - mas sou capaz de não perceber que estou esperando se estiver num local bem movimentados (como um saguão de aeroporto ou uma feira livre). Distraio-me olhando as pessoas e imaginando suas vidas, rotinas, sonhos e desejos. Também, prefiro um filme ruim sobre relacionamentos e histórias de vida ao melhor filme de ficção científica, cheio de robôs e cenários impossíveis… Entretanto, esses gostos não fazem ninguém psicólogo! E a pergunta permanece. Como me tornei psicóloga?

Dentre as peças que o mundo nos pega, essa é uma delas. Digo aos meus pacientes, amigos, orientandos e leitores que o “sempre quis” ser determinada profissão deve ser investigado. Não porque o desejo antigo esteja necessariamente equivocado, mas porque pode esconder idealizações ou associações infundadas, que frequentemente levam à frustração quando confrontados com a realidade. Porém, jamais investiguei o meu próprio desejo antigo de ser psicóloga…

Lembro-me de escolher essa profissão por querer trabalhar com pessoas, mas queria também seguir carreira em empresa - por achar o trabalho mais dinâmico e desafiador. Atuar em Recursos Humanos era minha meta em meados dos anos 90, quando prestei vestibular.

Sou filha de psicóloga. Certeza que a mamãe teve alguma influência na minha escolha. Onde? Não sei ao certo. Papai, por sua vez, é engenheiro e trabalhou a vida inteira em empresa. Teve uma bonita e ascendente carreira. Presumir que a minha escolha por Recursos Humanos visava unir meu pai (executivo) e minha mãe (psicóloga) parece muito óbvio. Mas era exatamente isso!

Assim, diante dessa meta, prestei vestibular para dois cursos, em universidades diferentes: Psicologia e Relações Públicas. Passei e cursei ambos, concomitantemente, até o terceiro ano.

Você deve estar se perguntando de onde eu tirei esse curso, Relações Públicas. Eu também! Em algum lugar na minha mente, às vésperas de fazer inscrição para o vestibular, eu acreditei que formar-me em RP iria me aproximar do mundo empresarial, iria me ajudar a chegar onde eu queria. Não investiguei a fundo o que era o curso nem o que fazia um profissional dessa área. Apenas escolhi. E aqui, mais uma peça: uma das principais orientações que dou aos jovens que me consultam é “pesquise a fundo sobre o(s) curso(s) de seu interesse”...

Hoje, 15 anos depois dessas escolhas, compreendo alguns dos fatores que as motivaram. Além da suposta aproximação entre RP e o mundo empresarial, eu precisava também provar que era capaz de passar no vestibular da USP, o mais concorrido do país. Mas eu queria fazer psicologia na PUC, pois também acreditava que a formação nessa universidade era “mais legal” que na USP (mais uma vez, sem ter feito as devidas investigações, mas isso não vem ao caso agora…).

Veja meu dilema aos 17 anos: se prestasse psico na USP e passasse (veja bem, eu queria passar na USP!), eu não teria como justificar cursar psico na PUC, universidade privada e menos reconhecida. Assim, encontrei um outro curso, supostamente “complementar” ao meu projeto de vida, para prestar e passar na USP - sem abrir mão da faculdade de psicologia na PUC. Espertinha...

Tranquei o curso de RP no meio do 3o ano. Faltavam 3 semestres para a conclusão. Jamais retomei. Não tinha a ver comigo. Numa das cadeiras, aprendemos a ordenar as bandeiras para serem hasteadas. Foram várias aulas sobre o tema. Para que isso?, perguntava-me. Na psicologia, em contrapartida, minha identificação foi total.

Por fim, depois de formada psicóloga, trabalhei com Recursos Humanos por alguns anos e gostei muito. Mas conclui que o horário de trabalho, à época rígido e engessado, não serviria para mim. Então experimentei inúmeras possibilidades de atuação do psicólogo: trabalhei com população carente, prestei consultoria, atuei em ONG, em centro de saúde e com educação. Hoje sou psicoterapeuta clínica, especializada em jovens e em Coaching. Dou também algumas aulas pois gosto do dinamismo e da agitação da educação - algo que não se tem no consultório. Nada do que eu imaginava aos 18 anos…

Revendo minha trajetória, percebo que, embora eu não tenha todas as respostas quanto ao meu processo de escolha profissional, sou muito feliz como sou e com o que faço. Sou uma psicóloga satisfeita. Não há nada que me dê mais prazer do que participar dos processos de escolha e reescolha profissional e acompanhar meus pacientes em suas descobertas e na definição de escolhas plenas. Realização define minha história profissional.


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