“Meu filho não sabe o que prestar no vestibular. Socorro!!”
Parece piada, mas é assim que muitos pais de adolescentes em vias de escolher a carreira se sentem. Se este é o seu caso, este artigo é para você.
Sabemos que esta escolha pode ser muito angustiante para o jovem, mas esquecemos que ela pode ser também angustiante para seus pais e familiares. E a molecada precisa da sua ajuda nesse momento - por mais que expresse o contrário…
Saber fazer as perguntas certas e assim fortalecer o jovem nessa fase de tantas dúvidas é dever dos pais. Sei que é difícil, especialmente no momento de relação delicada (chamado adolescência) que vocês podem estar vivendo. Por isso, procure ser positivo em relação às ideias de seu filho (sim, uma das coisas que mais os incomodam é o negativismo dos pais) e esteja disponível para escutá-lo na essência.
Como ajudar meu filho a escolher uma profissão?
Antes de começar, faço questão de pontuar três aspectos fundamentais sobre a fase de escolha de carreira:
Os adolescentes sentem que estão escolhendo o que vão ser para o resto de suas vidas - e isso é muito pesado! Vocês, pais, podem ajudar a tirar esse peso das costas dos seus filhos (sem minimizar nem banalizar a decisão, claro! Ela é uma decisão importante). Falaremos mais sobre isso adiante.
Caros papais e mamães, a opinião de vocês tem grande influência sobre as decisões deles, mesmo que eles neguem e digam que não!
Quando me refiro a pais não são só os pais propriamente ditos - outros familiares significativos como avós, padrastos ou tios também podem exercer a mesma influência. Por isso, recomende a leitura deste artigo a quem mais convier…
Pontos negativos nas ações dos pais
Em anos de experiência com orientação profissional, pude perceber muitos pontos que incomodam os jovens em relação à interferência dos pais nesse processo. Fiz um levantamento dos principais, e listo-os a seguir para contribuir com a sua reflexão.
Reitero que sua opinião é importante - mais do que isso, ela é fundamental - e deve ser colocada! O que estou discutindo aqui não é a expressão das suas opiniões acerca das escolhas de seu filho, mas a forma de colocá-las, ok?
Ser negativo e pessimista ante qualquer interesse ou curiosidade do jovem. Comentários como “Mas o que você vai fazer com esse curso?”, “Ah, mas isso é muito difícil”, “Ixi, não dá dinheiro” desmotivam e frustram.
Desencorajar as escolhas dos filhos.
Perguntar demais, colocar mais pressão.
Depositar sua próprias expectativas no filho e insistir para que eles façam cursos que vocês, pais, desejaram ou desejariam estudar. E isso é ainda pior quando a sugestão não tem nada a ver com o perfil daquele jovem.
Pensar demais ou exclusivamente no dinheiro, na remuneração. Os jovens entendem que a escolha de uma profissão não envolve só grana. Eles entendem que felicidade é fundamental e creem que serão mais bem remunerados se fizerem o que gostam. Tem um tanto de imaturidade e utopia nessa concepção, eu sei, por isso abaixo eu te ajudo a fazer orientações em relação ao dinheiro nas escolhas do seu filho, mas sem afastá-lo de você.
Por fim, para a surpresa de muitos, outro aspecto que incomoda o jovem nas ações de seus pais é ser excessivamente aberto em relação às opções do jovem. “Filhão, você pode ser o que você quiser”. Adolescentes querem parâmetros, dicas, sugestões (nem que seja para ir contra!). Faça o favor de deixar ao menos alguns de seus critérios claros!
Pontos positivos nas ações dos pais
Em contrapartida, listo a seguir atitudes que agradam os jovens e fazem com que eles se sintam acolhidos e ouvidos nessa fase de suas vidas:
Dar sugestões a partir daquilo que vocês conhecem do seu filho, daquilo que faz sentido para ele. Por exemplo: “Filha, você que é tão vaidosa e cuidadosa com a saúde, já pensou em cursar alguma coisa relacionada à estética, como dermatologia, nutrição ou moda?”.
Fazer pesquisa sobre possíveis carreiras ou faculdades junto com o filho, mostrar interesse pelo que ele se interessou.
Dar-lhes o contato de pessoas e profissionais que possam lhes dar exemplos práticos das carreiras. Lembra daquele conhecido que atua na área que seu filho tem demonstrado interesse? Promova um diálogo entre eles!
Dar apoio às suas escolhas, incentivando-lhe a ir atrás de mais informações sobre a carreira, sobre faculdades, etc.
Trazer dados de realidade, por exemplo, em relação às perspectivas do mercado de trabalho ou de remuneração. Opa! Esse item parece contrário à observação anterior, que dizia que os jovens não gostam quando os pais pensam demais no dinheiro. Mas não é. A diferença está no como. Eles acham importante que vocês, pais, lhes alertem para uma carreira que está em declínio no mercado de trabalho, ou mesmo para uma profissão com baixo retorno financeiro. Porém, eles não querem que vocês só pensem nisso e, muito menos, que tragam esse dado de realidade antes de qualquer outra coisa!
Como dar a minha opinião de forma a efetivamente ajudar meu filho?
Como ser honesto e trazer dados de realidade sem ser negativo nem desencorajar seu filho?
Em primeiro lugar, lembre-se de se interessar e escutar “na essência” qualquer expressão dele. Você pode - e deve - fazer perguntas, mas de forma interessada e não questionadora. Procure colocar seu filho para cima, e não fazê-lo sentir-se ridículo com a ideia. Tenha em mente que os jovens terão muitas ideias e pensarão em muitas carreiras a seguir, e desistirão da maior parte delas naturalmente. Portanto, não precisa morrer do coração a cada idea que sair da boca do seu filhote e soar como absurda na sua concepção.
E, quando for colocar as suas próprias expectativas, deixe-as bem claras. Ou seja, diga que é uma expectativa sua, que é um sonho seu não realizado, que é algo que você sugere para ele porque quem gostaria de ter feito é você. Quem sabe ele queira também…
Por fim, tenha em mente que a escolha é dele. É possível, sim, que ele opte por algo que você não aprove. Nesse caso, procure respeitá-lo, apoiá-lo (virar as costas de nada vai adiantar, ao contrário) e tenha em mente que as carreiras hoje são muito diferentes do que eram na sua época. Não vou me aprofundar nessa discussão aqui (seria outro artigo - pretendo escrever sobre isso em breve!), mas pesquisas têm mostrado que a perspectiva para a atual geração é de mudança de carreira pelo menos três vezes ao longo da vida. Não existe mais aquele corredor único que a gente entra e só sai quando termina. Atualmente, anos de experiência dizem muito menos do que uma boa ideia em termos de sucesso no mercado de trabalho. E essa moçada está cheia de boas ideias para dar!
Sugestões de intervenções
“Agronomia espacial…? Que interessante… O que faz um profissional dessa área, pois eu desconheço. Não é da minha época!”. Seja humilde. Não é porque você não conhece que é uma opção ruim.
ESCUTE a resposta.
“E você se imagina fazendo isso por que?” (o que em você te aproxima dessa carreira, quais são suas expectativas em relação a esse curso?)
ESCUTE a resposta e então concorde com alguma coisa.
“Verdade. Deve ser muito interessante tal aspecto dessa profissão”. (ou tal característica sua realmente parece ser importante para um profissional dessa área). E só então traga um questionamento, delicado.
“Você considerou que pode ser que o trabalho seja muito científico e pouco prático, uma vez que as viagens espaciais ainda não são tão comuns?”.
E só. Deixe o jovem pensar, refletir, trazer outras informações.
Por fim, sugira um curso que faça mais sentido para você, mas que tenha relação com as informações que seu filho acabou de te dar sobre ele mesmo. Não é hora de sugerir medicina, heim! Por exemplo, se ele disse que se interessa por agronomia espacial pela possibilidade de entrar em contato com o espaço sideral, proponha que investiguem o site da NASA juntos, por exemplo. Qual e a formação dos profissionais que lá trabalham? Ou ainda, fale em astronomia, engenharia, biologia. Se o interesse do seu filho for por agronomia, sugira outros ramos próximos. A conversa fluirá sem você estar sendo negativo! (Seus mil outros pontos contra a carreira de agronomia espacial podem ser colocados em outro momento se, e apenas se, seu filho continuar falando sobre essa área!)
“Teatro...? O que mais te motiva a seguir carreira nessa área?”
Mais uma vez, escute a resposta na essência e continue a conversa concordando com algo que ele tenha dito.
“Verdade, deve ser muito realizador poder discutir temas polêmicos por meio da arte. Por outro lado, fico pensando em você, que curte tanto viajar aos finais de semana e feriados, tendo que abrir mão disso para estar em cartaz, pois é justamente nesses dias que os profissionais de teatro mais trabalham…”
Bingo! Você colocou um ponto contra sem ser negativo, mostrou que está entendendo e valorizando o que seu filho quer dizer. Para finalizar, faça uma sugestão:
“Você considerou Mídias Digitais ou Jornalismo? Por meio da escrita também é possível discutir temas polêmicos, e há muitos canais de comunicação atualmente, muito mais do que na minha época. Quem sabe você se torna o autor de peças que outros levarão para o teatro!”
Bingo mais uma vez! Mostrou conexão com seu filho e intensificou o diálogo entre vocês! E nem precisou falar em dinheiro (ou na falta dele!).