Não, não e não!
Escolhi escrever sobre esse tema hoje pois, em minha trajetória como orientadora profissional, essa é uma das perguntas que mais respondi. E é uma dúvida extremamente pertinente. Ora, se um processo de orientação profissional ajuda o cliente a definir qual carreira seguir, quem já definiu sua profissão não precisa de orientação profissional, certo?
Não, não e não!
Pergunto: você vai ao dentista apenas quando está com cárie, ou ao médico apenas quando está doente? Sua resposta provavelmente é negativa (e, se não for, sabe que é um lapso seu, não é?). As razões que você aponta para justificar essa resposta negativa provavelmente passam, de uma forma ou de outra, pelo conceito de prevenção.
No nosso dia-a-dia, também, temos uma série de comportamentos antecipatórios: fazemos antes que aquilo se torne um problema, evitando o problema. Por exemplo, começamos a preparar o jantar antes que a fome aperte, praticamos atividades físicas regulares para nos mantermos saudáveis, e lemos o jornal ou similar para estarmos atualizados. A antecipação, nesses e em tantos outros exemplos, não é condição para essas atividades. Mas, se pensarmos um pouco, veremos que elas perdem qualidade se feitas a posteriori: a prática de exercícios após um problema de saúde implicará numa série de restrições a essa prática, a escolha dos alimentos quando estamos famintos não costuma prezar por sua qualidade, ou ainda a informação “às pressas” não terá as melhores fontes.
Sei que o cuidado com os nossos dentes, nossa alimentação ou com nosso corpo são assuntos manjados, sobre os quais muito se falou e já temos muitas informações. A Orientação Profissional não é assim (será em alguns anos, mas não, ainda não é compreendida como algo que todos os jovens devem cuidar!). Por isso, reitero, a dúvida sobre quando usar esse serviço é pertinente. Todos esses itens tem em comum a máxima do cuidado com a nossa saúde, inclusive a Orientação Profissional!
Prevenção e Antecipação
Essas duas palavrinhas, juntamente com autoconhecimento e informação, são a essência da OP.
A Orientação Profissional é um processo de autoconhecimento que visa a redução da angústia que antecede o vestibular por meio da identificação das crenças, valores, competências, habilidades, sonhos e desejos do cliente, aumentando suas chances de sucesso profissional e pessoal. Como tal, é um trabalho preventivo, que antecipa possíveis situações problemáticas e evita frustrações, perda de tempo e de dinheiro e desvio de rota. Promove escolhas conscientes e acertadas para o futuro.
A Orientação Profissional é a diferença entre uma escolha e a melhor escolha.
Identificar as expectativas e idealizações presentes em cada uma das nossas escolhas é fundamental para o sucesso delas.
Nossas escolhas, todas elas, são repletas de expectativas, reais e idealizadas. Quanto mais idealizadas, menores as chances de sucesso. Inversamente, quanto mais informações temos, maiores as chances de sucesso nas nossas escolhas. Está fazendo sentido?
Um casamento, um novo emprego, uma nova escola, um destino de viagem… Quanto mais eu pensar sobre a minha escolha, colher informações, experimentar quando possível, identificar quem sou eu e identificar as minhas expectativas com essa decisão, maiores as chances dessa escolha não ser frustrante nem uma perda de tempo na minha vida (com consequências maiores ou menores dependendo do tamanho dela). Ficou óbvio, né?
Portanto, caro leitor, um jovem que já tenha optado por um curso universitário vai se beneficiar muito de um processo de orientação profissional. Quais são as expectativas conscientes e inconscientes que ele depositou no curso escolhido? Quais são suas características pessoais e o quanto elas o beneficiam nesta opção? E por aí vai…
Tive uma jovem cliente que queria “desde sempre”, segundo ela, cursar Direito. Em pouco tempo em processo de OP, ela identificou que seu desejo por esse curso tinha a ver com seu desejo de usar tailleur para trabalhar, como as bonitas advogadas que ela vislumbrava. Ela nada sabia sobre a advocacia em si! Outro jovem, meu cliente alguns anos atrás, optara por Engenharia Agrônoma. Com o processo de orientação profissional, ele identificou que seu projeto pessoal era viver fora dos grandes centros urbanos e esse curso lhe pareceu a única opção para garantir isso.
Não estou, com esses exemplos, dizendo que Direito não podia ser uma boa escolha para a minha cliente, nem Engenharia Agrônoma para o rapaz. O que quero destacar é o quanto uma escolha pode estar baseada em critérios que não a sustentam, e como tal possivelmente trarão muita frustração depois. Frustração, desperdício de tempo, de dinheiro (às vezes muito dinheiro), etc.
Identificar as expectativas e idealizações presentes em cada uma das nossas escolhas é fundamental para o sucesso dessas escolhas.